sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O mosaico da dor

Eram restos, eram cerâmicas, cisterna de casa velha.
Aterrada,  baixa e sombria.
Tornara-se mesa de cacos, num mosaico da dor
Era hora, um traço de fala
Era tarde, um banho de lágrimas.
Lavei o meu coração.

Colei a alma, acertei pedaços, busquei flores.
E por maior que seja o meu sofrimento
é inconcebível  ter e amar(dor).

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

lírica de passarinhos

Passarinhos, cantam presos e lívidos de amor.
Homenagem da vida que agora disputa liberdade
Líbero não é melhor que lírico!
Canta o passarinho, a fêmea aprova
Larga gaiola, o amor brilha mais que sol
Varas de taboca, o amor é maior que a liberdade.

Se pensas que cantando sofro, ledo engano
Aqui aprisionado canto de amor minha alma companhia

__Quereis partir? Saliento uma última vez.
Nada é supremo lá fora, aqui preso o amor é tudo!

Um anjo reciclado

Faz um bom tempo que ando por aqui.
Recomendo alguns caminhos,
presencio sons e ajudo quando posso,

e quando não é possível, começo a rezar
Minhas forças se fazem poucas, garanto-me em Deus
e ainda doente sou capaz de proteger.

Embreve data  fazer-se-ão décadas 
que descolaram minhas asas...
Aos poucos chegados dou-me de amor 

Desaprovo injustiça, e aos que não conheço

sei a hora de zelar, serenamente e só.
Aceitando minha sorte em lágrimas de vidro
Da luz vivo perto, eis-me anjo reciclado

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A vaidosa rosa


Abre-se em pétalas a rosa vaidosa
Durante  a minha ausência
 é sempre plena aos passantes
Vejo-te de longe, toco-lhe serenamente, pois sei
Da tamanha fragilidade
que em si encerra a vida
Dadivosa, a roseira branca
reserva-se em gotas
Solta-me a esperança,
ver-te em sol sem ser só

Finda-me a seiva imaginar que todos podem, exceto eu
Que tanto carinho cultivei, em ver esplendorosa rosa...
Ao largo, levo-te em sonhos de terra...
A mesma terra que um dia pisei com o meu amor.

domingo, 26 de dezembro de 2010

O último suspiro




Sopros

Suspiro, o último  suspiro
Reflito um pouco mais, sugiro
Ar, rarefeito assunto perfeito
Respiro e aspiro por mim
Aspiro e respiro por outros.

Sonhos que já deixei de ter
Parafina; cheiro de velas
Véu; perfume de noiva
Igreja; barulho de gente.




 Choro.
 O vento em sopros vem dizer:
_És morta, volte ao templo!
Desped(ida) ao doce da v(ida)
Suspiro o último suspiro.



sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Ode ao limoeiro príncipe

Ele renovou folhagens

Acariciou meus cabelos, de fato falou comigo numa linda manhã de chuva
__ Eis aqui a moça triste, esperavas o mel? Trogo-lhe o sabor acre de(vida).
Não me importo com suas reverências, sou mesmo teimosa
Tu és mesmo perfumado, líquido fruto
Se queres me envolver, saibas estou envol(vida)
Não sei porque chegaras, mas sei da sua altivez
Furtou-me, fascinada cobriu-me de encantos...
Enlouquecida, deitada na terra perguntei:
__ És mesmo o meu príncipe?
Tácito, respondeu:
__ Contemplo-te, saboreio o vivido castanho dos olhos,
vivo, mera planta, amo-te clara, lí(vida) e rara.

domingo, 7 de novembro de 2010

Cuidados do jardim

Já era tempo, se fazia horas, dias e por muitos meses eu esperei
o florescimento dos girassóis...
Era fabuloso lembrar da minúscula película que lhe vestia a fina terra,
Era inexplicável saber o tempo que levará tanta perfeição.

Agora em lindo amarelo deliciam-se as folhas.
Mas em linda noite espera a morte, a morte dos sonhos, o falecimento do amor.

Tantos cuidados para um fim tão próximo do esperado
Tantos apegos para perder as pétalas no fino marrom da morte,
Eu lhe criei, aromas em vida, doçuras no leve trato das mãos
Porém assisto complacente à tua partida,
O meu gira(sol) era vida, era encantamento
O meu gira(sol) era prenda, era a mais pura feição.

O sol girou, o amarelo desbotou, as folhas secaram...
A luz retornou, e lá bem mansinha na terra outra semente germinava,
O negro miolo de girassol é o reconhecimento da vida.
E por nunca morrer, recria vidas, retorna amarelo, retorna só como o sol.