quarta-feira, 3 de abril de 2013

De(canto)

Eu trago uma lembrança que o tempo já esqueceu
Carrego na alma uma dor de tantos anos
Cheia de terra
Repleta de sal

Singular encontro o passado
Recomeço
Vou leve, serena, mas coberta de pó
O pó  do cansaço

Viajo em círculos e carrego o vento
Ando sozinha 
Antes do sol
O sol do acaso

Pávida, não acredito nas pedras
Sou de plantas, palmas e árvores
Mas em timbre
Sou das palavras


Em cantos e ainda clara
Sou mesmo das palavras
Estes pássaros
Sutis do significado.


Pirenópolis - Goiás

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A árvore vestida

Quando me vestiram de tristeza 
eu ainda não sabia chorar
Quando me vestiram de alegria 
eu já conhecia as lágrimas
Quando me deram o sol 
eu vi tudo mais só e mais verde
Quando me colocaram no rumo
minha alma já era estrada


Eu fiquei aqui vestida
Re(vestida)
Esperando o tempo passar

Tenho uma camisa de folhas
Um passado de lamúrias
Um tronco de melancolia

Então sou árvore vestida
Re(vestida) e a(dor)nada.

Passagem entre as cidades de Itauçu e Itaberaí - Goiás

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Cores da chuva















Os frutos mais doces invadiam a casa
Nos sabores, nos aromas, nas cores...
Estava prateada rainha dos tempos
Mal mimava a terra
Mal acariciava o ar
Tão plena, tão única:
A chuva
As águas que molhavam o quintal
A senhora acerola

O limoeiro príncipe

A goiabeira serena

Sim todos os frutos presenteavam a graça de Deus
Um jeito de aparar o pranto da chuva.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Cant(an)do sol

Trazia a luz 
antes do dia, era assim meio amena...
Eu era palavra antes de ser pálida.
Eu era céu antes de ser chão
Eu era  vida antes da alegria

Cheguei mais leve, toquei a cerca
Eu era casa antes da estrada
Eu era  pedra antes do pó
Eu era sol antes da noite

...era assim
 meio amena, antes do dia trazia luz.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Re(cor)tada

Quando cresci era cedo demais para fiar
Então eu bordava
Bordava a rosa, o céu, a borboleta e em algumas vezes














todo o jardim...
Minhas mãos já eram cansadas, mas meu coração renovado
Meu corpo já era velho, mas minha palavra ainda moça

E foi assim que deixei sem saber a ideia de ser menina
Num destes dias de caramujo
Num destes dias vermelhos sem explicação



Nunca domei ondas, tão pouco nadei
Sou primavera, verão, outono e nunca inverno
Porque no frio a linha lira não aquece.

Eis me aqui por muitas décadas
a menina
a moça
a velha do verso virtual.



Estradas

Estou por meios 
Estou nas estradas de chão
Estou no mato aberto
Instâncias para ir além

Estou entre cortes, passos, palavras
Estou entre casas, janelas, telhados
Estou entre outros: assim entre retratos

No começo da vila
No começo do céu
No começo sem fim da simplicidade.



sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Entre tropas

 
A vida tropeira
remonta o passado
em trapos, traços e trajetos
A rota de uma roda
 
O círculo de uma reza
A casa, fascínio colossal
Um jardim de flores e histórias
E aos escravos um descanso de pedras
 
 
Os sinos tocavam idas e vindas
Pessoas esperavam a celebração
E a capela santificada de cores
Pintura dos santos em comunhão
 
 
O boi carreiro dormia nas sombras
Alimentava-se fartamente
Esperando novas tropas
Mantos e mantimentos
 
O pouso debaixo das estrelas
O barulho sonoro dos carros
O levante em muitas estradas de chão
 
Era assim: a vida tropeira




Fazenda Babilônia - Pirenópolis - Goiás