segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A fina flor de lira.

Ela invadiu a sombra
Eu caminhei no mato
Lira e flor
Ela ganhou ramagens
Eu encontrei a água
Lira e flor
 
Eu tomei a mata
Ela refez o dia
Flor e lira
Eu sou palavras
Ela é rima
A fina flor de lira
A fina lira da flor.

A rosa das rosas

 
A rosa das rosas
surgiu assim
Ainda tímida, florescia
Ainda cálida, parecia
 
 
Era manhã, ainda de sono
Quase clara, lívida: acontecia
Uma pétala, sobre outra, uma mágica
De macia cor quis muitos dias 
 
 
 
Tomava banho de água cristalina
Chegou sua hora e partiu bonita
Deixou a vida, ganhou a primazia
A rosa das rosas
em candura é efêmera
A rosa das rosas
em amor é eterna.

sábado, 21 de setembro de 2013

Outras cores e sabores da casa

O verde ainda envaidece o quintal
A casa ainda é perfumada
A grama ressecou
Mas as roseiras continuam vistosas.
 
 
 
   Sobre o sal, outro aroma: o empadão 
   Carnes, molho, queijo...
   Massa aquecida no fogão de lendas...

 
De outras estórias
De outras casas
 
 
 
De outros povos
De outras árvores
De outras frutas.
 


Colônia de Uva - Cidade de Goiás

Ser(errado)


 
Nesta época
A poeira invade o tempo
E coração das pessoas.
Ser cerrado de sonhos
Ser fechado em seus passos
Em seu passado
Em seu pensamento.
 
 
 
                         O rosto da vida
                         A memória do povo
                         Escondidas no gosto
                         de mais um agosto
                         Tão cheia de cinzas
                         Queimadas de sol.


 
Árvores retorcidas
No cortante da noite desmaiada.
 
 
Ipês vão colorindo o céu
Ser assim
Ser goiano.
 
Em seu pensamento
Em seu passado
Ser fechado
Ser cerrado.
 
 
 
 Cocalzinho de Goiás -  Parque Estadual dos Pireneus  - GO
 
 

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Des(folha)da

Quando fui árvore
Não pude ter folhas
Mas mesmo seca
Estiquei meus galhos
E quis a vida.




Sou assim toda desfeita
De uma beleza deformada
Pela ação do tempo
Cercada de pasto 
Alucinada de céus
Quando fui árvore 
Não pude ter frutos
Mas... enquanto eu for palavras
Poderei ver sempre o Sol.


Árvore localizada entre Edeia 
e Indiara - Goiás

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Ares de lírica


 
 
 
 
 
 












Não tenho medo da água
Tenho respeito
Não trago angústia,
nem lágrimas, sei que
 a margem é sempre derradeira
 
Confesso pensamentos,
ondas e muitas espumas
Não prezo pedras
Não partilho mentiras
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sou de um tempo firme
Sou de um tempo da rocha
e por isso tenho um coração
naturalmente intransponível
 
Queria viver mais como as cachoeiras
Queria ser mais livre  do que o rio
mas é assim, a vida é curta
e a palavra é  lírica clara.
 
 
 
 
 
Cachoeira das Araras - Pirenópolis - Goiás

Res(sentimento)

Vou falar baixinho sobre as pedras
Receio que  elas possam escutar...

Tenho medo das pedras,
não por serem estáticas, frias e silenciosas
Tenho medo por mim
Tenho medo por minhas palavras.

(...)

Da última vez que falei em pedras
Não fui apedrejada
Mas aos poucos quase fui enterrada.

(...)

Não! As pedras não fazem nada!
As pedras são sugestivas lembranças
das destruições e das construções humanas.

Re(parti)da




Esqueci de mim  para viver o ontem
Esqueci de mim  para nascer com o sol
Não sou mais eu
Sou das dores
Sou das entraves
Sou das partidas


Aqui distante das horas
Recolho-me nas cinzas
Agrado-me nas sombras

Eis-me vinda
Vivida em vidas distantes
Eis-me vinda
Vivida em liras constantes.

Passe(ando)


Eu ainda passo pela estrada
Sigo devagar, sigo enfrente
Dos sonhos
Dos anseios

Sou feita desses ares de casa velha
Sou o cheiro da rosa ressecada
Sou farta de pó
Sou ausente de vida

Não sei se me predo ao passado
ou se é o futuro que me enlaça
Sei que não faço presente
Tão pouco presente me encanta

Eu ainda passo pela estrada
Sigo devagar...
Sigo na frente da vida que não vive
por falta de anseios
por medo dos sonhos.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

De(canto)

Eu trago uma lembrança que o tempo já esqueceu
Carrego na alma uma dor de tantos anos
Cheia de terra
Repleta de sal

Singular encontro o passado
Recomeço
Vou leve, serena, mas coberta de pó
O pó  do cansaço

Viajo em círculos e carrego o vento
Ando sozinha 
Antes do sol
O sol do acaso

Pávida, não acredito nas pedras
Sou de plantas, palmas e árvores
Mas em timbre
Sou das palavras


Em cantos e ainda clara
Sou mesmo das palavras
Estes pássaros
Sutis do significado.


Pirenópolis - Goiás

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A árvore vestida

Quando me vestiram de tristeza 
eu ainda não sabia chorar
Quando me vestiram de alegria 
eu já conhecia as lágrimas
Quando me deram o sol 
eu vi tudo mais só e mais verde
Quando me colocaram no rumo
minha alma já era estrada


Eu fiquei aqui vestida
Re(vestida)
Esperando o tempo passar

Tenho uma camisa de folhas
Um passado de lamúrias
Um tronco de melancolia

Então sou árvore vestida
Re(vestida) e a(dor)nada.

Passagem entre as cidades de Itauçu e Itaberaí - Goiás

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Cores da chuva















Os frutos mais doces invadiam a casa
Nos sabores, nos aromas, nas cores...
Estava prateada rainha dos tempos
Mal mimava a terra
Mal acariciava o ar
Tão plena, tão única:
A chuva
As águas que molhavam o quintal
A senhora acerola

O limoeiro príncipe

A goiabeira serena

Sim todos os frutos presenteavam a graça de Deus
Um jeito de aparar o pranto da chuva.